A ARTE E O ESPECTADOR
No período Moderno, a Arte deixa de meramente comunicar preceitos religiosos ou afirmar o poder e as conquistas das monarquias. Além disso, sua produção não fica restrita a uma exatidão técnica matemática ou anatômica.
Nesse período, a Arte é produzida para propiciar uma experiência estética no espectador, na pessoa que aprecia a obra. A experiência estética é entendida como a potencialidade da obra causar no apreciador: análises, reflexões e pensamentos sobre si mesmo, sobre a sociedade, bem como, levá-lo a refletir sobre o contexto de criação da peça artística. Ou seja, ao vivenciar a experiência estética o espectador, além de se emocionar, precisa mobilizar conhecimentos prévios para ler e interpretar a obra.
Nesse sentido, a Arte deixa de cumprir uma função de comunicação de uma história, fato do passado, crença, valores cívicos e éticos. Sua intenção é despertar no espectador a interação com a obra, desencadeando análises e produção de conhecimento por meio da reflexão de si e da sociedade.
1 — Observe a pintura (A persistência da memória (1931) de Salvador Dali) e responda às questões:

a) Descreva a imagem: o que você vê nela?
b) Para você, essa pintura é uma obra de arte? Por quê?
c) Que sensações a imagem te provoca?
d) O que você faria se fosse um crítico de arte e recebesse essa obra para ser avaliada?
CORREÇÃO: AS RESPOSTAS SÃO PESSOAIS, PORÉM TEM QUE TER COERÊNCIA COM A OBRA. PARA ISSO, LEIA A ANÁLISE DO QUADRO PARA ESCREVER SUA OPINIÃO.
ANÁLISE DA OBRA:
A persistência da memória, de Salvador Dalí

Laura AidarArte-educadora e pesquisadora
A persistência da memória é uma obra de 1931 pintada pelo surrealista Salvador Dalí.
O trabalho, que pode ser visto no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMa), possui dimensões de 24 x 33 cm e foi produzido com a técnica de óleo sobre tela.
Esse é um dos mais representativos quadros do artista catalão. A composição traz elementos absurdos em um cenário onírico, ou seja, aquele que somos transportados quando estamos sonhando. Tal característica é bastante marcante dentro do surrealismo.
O processo de criação da obra
A história da arte possui algumas obras que se tornaram ícones, tanto de movimentos artísticos quanto de seus autores. Sem dúvida, esse é o caso de A persistência da memória.
Segundo o próprio autor, a tela foi concebida em um momento de indisposição, quando, ao recusar um passeio com a esposa, o artista fica em sua casa pintando.

Assim, em um curto período de tempo, Dalí criou o que seria uma de suas telas mais prestigiadas. Ele declarou ainda que teve como inspiração a imagem de queijos camembert derretidos que havia comido poucas horas antes.
Entretanto, é importante ressaltar que, para os surrealistas, o processo de criação estava totalmente relacionado ao mundo psíquico, do qual eles extraíam ao máximo a inspiração, baseando-se no automatismo e imagens do inconsciente.
Os significados ocultos em A persistência da memória
Essa é uma composição de dimensões relativamente pequenas. Entretanto, a cena que foi gerada é tão instigante que segue aguçando a curiosidade do público e despertando interesse sobre as possíveis interpretações que os objetos representados possuem.
Os relógios derretendo
Os relógios escorridos de Dalí se tornaram uma marca do pintor. E não à-toa, pois, de fato, esses elementos causaram impacto na psiquê do público, devido ao seu caráter intrigante.

O artista buscou com essa imagem “materializar” a noção de que o tempo passa sem que possamos controlar, escorrendo como “queijos derretidos”.
Aqui, uma das inspirações foi a Teoria da Relatividade, de Einstein, que sugere que o tempo está relacionado à lei da gravidade.
Há também a ideia de que os relógios moles simbolizam a flacidez e impotência sexual, assuntos abordados por Dalí em outros trabalhos.
Nessa área da tela é exibida ainda uma árvore seca. O tronco é uma oliveira, bastante presente na região da Catalunha, onde o artista nasceu.
O autorretrato disforme do artista
A figura imprecisa que aparece no centro da tela é uma espécie de rosto disforme. Esse elemento é interpretado como uma representação do próprio artista, que traz um relógio mole apoiado sobre ele.

Podemos notar nesse rosto prostrado, enormes cílios, sobrancelhas e um nariz. Abaixo do nariz vemos um elemento que pode ser uma língua.
A artista é retratado dormindo na cena, o que deixa ainda mais evidente a atmosfera de sonho, onde o inconsciente comanda a situação.
Interessante ressaltar que, naquela época, as teorias psicanalíticas de Sigmund Freud estavam em desenvolvimento. Nelas, o inconsciente é bastante estudado e os surrealistas se basearam nesses estudos como métodos de criação.
Os insetos nos relógios
Os insetos em A persistência da memória surgem como símbolos de conceitos subjetivos. No caso das formigas que amontoam-se no único relógio rígido, elas trazem a ideia de apodrecimento. O artista sugere que o tempo é devorado pelas formigas.

Já a mosca pousada no outro objeto carrega como simbolismo a passagem subjetiva desse mesmo tempo, em uma alusão de que as horas, os dias e os anos passam de forma distinta, dependendo da perspectiva que se observa.
Salvador Dalí: o ícone do surrealismo
Quando se fala em surrealismo, é essencial citar Salvador Dalí. Isso porque, o excêntrico artista, nascido na região da Catalunha, na Espanha, foi uma das personalidades que mais mergulhou nessa vertente da arte.
